domingo, 14 de junho de 2009

Polícia na Cidade Universitária? Bombas contra estudantes? O que é isso?

 

Realmente, é impressionante. Faço parte da USP desde 1998 (sim, porque uma vez uspiano, uspiano para sempre), e sempre me deparei com situações de greve, na maioria das vezes, equivocadas.

Os que reivindicam, sempre reivindicam coisas misturadas, é aumento de salário dos professores, é refeição aos sábados, é circular a mais, é contra a demissão de fulano, é sobre o ensino à distância, enfim, são questões que já vi ao longo desses anos todos e que cabem a estâncias de decisão diferentes e que deveriam ser tratadas de maneira mais organizada e separada. Nem eles mesmos sabem ao certo que bandeira querem levantar.

Uns falam que os estudantes atiraram pedras, outros que a PM atacou sem que houvesse ameaça real por parte dos estudantes, enfim. O caso é que, analisando sem hipocrisia, sem arrogância, sem “Sou mártir da ditadura” ou “É tudo maconheiro filhinho de papai, pau neles”, é possível pensar neste episódio de maneira menos passional.

Vi alguns vídeos disponibilizados na Internet e não consegui ver alunos atirando pedras contra a PM. O que vi, sim, foram alunos proferindo palavras e postura de chacota frente à PM que é o braço armado do Estado, responsável pela força do Estado (quem não faltou às aulas de Política I sabe disso). Ok. Homens adultos, fardados, treinados e armados, deveriam saber contornar essa situação sem atirar bombas dentro da maior universidade da América Latina, símbolo de luta contra a ditadura e repressão militar. Porém, aqueles alunos, sabendo da realidade do preparo de nossa polícia e, sabendo dos riscos de um confronto físico com eles, deveriam pensar mais vezes. Não são os estudantes, os intelectuais? Pois então, pensem melhor, aproveitem toda a erudição e facilidade de expressão que adquiriram em tanto estudo – sim, porque somos beneficiados com essas características quando nos dedicamos aos estudos, sobretudo na área de Humanas – e atuem de maneira mais proveitosa e menos arriscada para suas próprias vidas e para o patrimônio público. Muitos são incapazes de respeitar aos outros, atuando eles próprios como ditadores – ou melhor dizendo, como egoístas? – , ao impor aos que estão estudando ou precisam estudar, o barulho, a desordem, salas invadidas... Lembro-me de que na pós, nós, alunos que viviam de bolsa ou que estudavam e trabalhavam (tendo nas horas em que iam para as aulas, horas a menos de trabalho, o que fazia falta no fim do mês) e tinham, portanto, prazos a cumprir, encontrávamo-nos impedidos de assistir às nossas aulas, com cronograma já tão apertado, porque haviam tapado corredores com carteiras, o que, inclusive, quebrava muitas delas. E quem pagava por isso? Ninguém. Professores e funcionários que querem continuar em suas atividades também têm este direito. Sim, direito.

Voltando ao episódio em questão, se a situação fosse a de uma polícia como a vista nos tempos de ditadura, se pessoas fossem arrancadas para serem conduzidas a salas de tortura, se pessoas fossem arrancadas do seio de seu lar para serem levadas a campos de concentração, se às pessoas fossem ceifadas seu direito de resposta, seu direito de expressão, seu direito de ir e vir, enfim, seus direitos civis básicos, aí ok, aí é se jogar com tudo, com pau, com tudo contra a ditadura. Dá para entender.

Porém, não é isso o que acontece em nosso país. Apesar de muitas pessoas sentirem-se contrariadas em relação ao que afirmarei agora, vivemos numa democracia. Sim, vivemos sim, quer você goste, quer não goste.

Organização, disciplina e coerência é a palavra de ordem. Unidades deveriam se unir e pensar de maneira ordenada e aí sim, reivindicar de maneira que possa ser ouvida porque da maneira como aconteceu nesse dia 9 de junho de 2009, meus amigos, não serão ouvidos. Sobre o SINTUSP, então, nem vale a pena falar.

Além disso, muito cuidado com a depredação. Piquetes e etc, impedir o direitos de pessoas que querem trabalhar ou ter aula é, sim, ilegal. Muitas vezes alunos da USP acham que podem tudo, acham que a Cidade Universitária é um mundo à parte e não é bem assim. Existe, sim, a autonomia da universidade, a universidade como fórum de debate e tudo isso, porém, invadir e depredar não pode e, quando isso acontece (como aconteceu com a Reitoria em 2007), a polícia deve intervir como braço armado do Estado, o que já disse no começo deste texto. Mais responsabilidade, pessoal, mais objetividade, cabeça no lugar, organização, perguntem a si mesmos: o que vamos reivindicar? E aí pensem em maneiras impactantes de fazê-lo, maneiras estas que aumentem o respeito em relação aos estudantes das universidades públicas na sociedade porque, se vocês não sabem, a imagem de vocês não é das melhores e sim, vocês têm certas obrigações em relação à sociedade.

E não se enganem meus garotos: você não viveram, não vivem e, se deus quiser, jamais viverão numa ditadura. Não tentem reproduzir aqueles episódios lastimáveis, não tentem experimentar o que é ser um mártir da ditadura. O ser humano verdadeiramente inteligente aprende por meios de livros, por meio de filmes, de áudios, de experiências passadas, o ser humano verdadeiramente inteligente aprende através destes canais o que é e o que não é desejável viver, para provar sabe lá deus o que para si mesmo e para os outros. Evitem este equívoco. Não desejem o indesejável.

Os estudantes, professores, funcionários, reitor e seja lá quem mais for, devem começar com um debate interno. Sim, porque até compreensão interna falta. A partir daí, devem saber o que reivindicar. A educação no Brasil está uma vergonha, isso é fato, e cabe, a meu ver, às universidades públicas servirem de debatedores e órgão de vigia em relação à atuação do Estado no que se refere à educação em todos os níveis. Dêem-se ao respeito e assumam uma atitude de respeito, uma atitude central nesse debate. Pensem naqueles que saem do colégio sem saber escrever. Ampliem a discussão da educação para toda a sociedade e façam algo concreto pra o bem de todos. Eu disse de todos.

E para os que estão de fora da USP e estão lendo este texto, apenas gostaria de registrar que aqueles não são a maioria dos estudantes – nem das Humanidades – daquela instituição de ensino.

4 comentários:

Anônimo disse...

A greve só ocorre quando falta diálogo e, geralmente, a recusa do diálogo é por parte daqueles que detém o poder. A USP é publica e, se falta algum serviço ou ele é ruim, precisa-se protestar, através de várias formas, dentre elas, mas por último, a greve (até mesmo a favor de salário para os professores). Agora o Governador Serra, mandar a polícia pra cima dos estudantes é ultrajante: polícia é para preservar o patrimônio público e garantir a ordem da greve e não para impedí-la, pois é um direito democrático. Alías, polícia é para refrear a ação de bandidos, coisa que o governador tucano deixa a desejar, você não acha Cristiane?

Vanessa disse...

Eu não tenho uma opinião final sobre isso. Eu acho que ambos têm uma certa culpa, sim, mas eu não teria capacidade de apontar uma solução. ALém dodebate interno que vc citou, claro, mas isso parece que não anda dando muito certo, né?

.:.A Luciana.:. disse...

"atuem de maneira mais proveitosa e menos arriscada para suas próprias vidas e para o patrimônio público"... cheguei a me arrepiar. Resume muito da maneira como eu penso a respeito do assunto, Cris.

E

"pensem em maneiras impactantes de fazê-lo, maneiras estas que aumentem o respeito em relação aos estudantes das universidades públicas na sociedade" também é uma boa sugestão a ser seguida. É por causa dessas atitudes, convenhamos, impensadas que estudante universitário não é respeitado.

Sobre o questionamento da pessoa anônima (até aqui tem anônimo, Cris! Me sinto melhor kkkkk), há que se questionar oque esses alunos ou professores fizeram para que os policiais tomassem a atitude que tomaram. A Cris já disse ali no post que muitos zombaram da autoridade dos policiais. Isso não seria pedir pra levar? Enfim... fica um questionamento.

Sou totalmente contra violência. Acho que reivindicar direitos é válidos. Aqui no Paraná, o ex-governador Álvaro Dias jogou os cavalos em cima dos professores do estado que faziam manifestação a favor do aumento salarial. Num país que tentava esquecer a repressão da ditadura, essa atitude do tal governador foi vergonhosa. Não era necessário jogar os cavalos em cima de uma manifestação que vinha seguindo pacífica.

Quem está certo e quem está errado na história, né. Gente reivindicando? Policiais no cumprimento do trabalho? Só uma análise detalhada da situação pode dizer. Ninguém é feliz estudando e trabalhando sem condições mínimas. E ninguém é de ferro pra aguentar zoação contra a sua farda.

.:.A Luciana.:. disse...

PS - Esqueci de dizer que concordo que polícia não tem que impedir greve.

Esse assunto rende, né? Gosto de discutir essas coisas, mas vou poupar o fôlego rs.