quinta-feira, 1 de maio de 2008

A Democracia dos antigos combina com o mundo moderno?

Hoje vou falar de um assunto que é bastante discutido em Ciência Política, a questão da comparação entre o tipo de Democracia que vigorava antigamente (na Grécia, que se entenda bem) e a que vigora nos tempos modernos.

Quando pensamos em Democracia nos dias de hoje, a primeira coisa que nos vem à cabeça é a imagem do dia das eleições. Cidadãos enfileirados, aguardando para exercer seu ato maior de cidadania política: o direito de voto. Essa imagem nos vem à cabeça porque a Democracia que adotamos atualmente é a representativa. Em outras palavras, no dia das eleições nos dirigimos aos postos de votação e depositamos na urna um pedaço de papel (ou digitamos algumas teclas) que contém o nome do candidato ou do partido político que desejamos ver exercendo a política em nosso nome. Nosso papel limita-se a votar no dia das eleições e, no melhor dos casos, a acompanhar o desempenho de nosso candidato e/ou partido político para que possamos ser capazes de repetir nosso voto ou “punir” aqueles que não exerceram seu papel como deveriam, não mais votando neles.

Quando os antigos pensavam em Democracia, a imagem que lhes vinha à cabeça era totalmente diferente desta. A imagem que lhes vinha à cabeça era a de uma multidão reunida numa praça e deliberando sobre os assunto políticos pertinentes à sociedade. Para eles a Democracia era a chamada Democracia Direta.

Muitas pessoas criticam a Democracia dos modernos, dizendo que a Democracia real é aquela em que o povo participa diretamente. Isso é verdade? Com certeza não. O termo “Democracia” engloba muito mais do que apenas a questão do “como deliberar”. Ela engloba questões de participação, mas também de competição política, de defesa de direitos e liberdades, tudo que, por definição, não encontraremos numa Tirania.

Aos que fazem essa crítica proponho o seguinte exercício: imagine se nos dias de hoje vigorasse a Democracia Direta. Pensemos no Brasil. E nem é preciso pensar na questão da deliberação em nível nacional. Pensemos em nível municipal, pensemos na cidade de São Paulo. Imaginem a cena: cerca de 16 milhões de pessoas se encaminhando para uma praça (e que praça!) para deliberar sobre a questão da violência, da corrupção, dos impostos... e isso dia após dia. Acho que isso é algo inimaginável.

Com a escala populacional que os países alcançaram, o exercício da Democracia Direta tornou-se algo impensável. Mas como fazer com que a população continue envolvida com política, mesmo tendo quem delibere em seu lugar? Baterei sempre na mesma tecla: através da democracia direta realizada em pequena escala, nos bairros, nas escolas, nas pequenas associações. Os antigos chamavam de “idiotas” as pessoas que viviam ilhadas em seu pequeno mundo particular, totalmente alheias ao que se passava em sua volta, à política, por assim dizer. Ouso aqui dizer que hoje vivemos num mar de “idiotas”. Como fazer com que a democracia direta seja exercida por pessoas que acham “muito trabalhoso” acompanhar esporadicamente o desempenho de seu candidato para saber se deve ou não votar nele novamente nas próximas eleições?

E não falo aqui das pessoas menos favorecidas (a estas seria preciso dar, primeiramente, a condição de comer, morar e estudar dignamente), mas sim dos integrantes das classes média e alta, médicos, engenheiros, comerciantes.

Outro dia, numa das minhas andanças por uma livraria, folheei um livro e me deparei com a seguinte afirmação: o azar das pessoas que não gostam de política é serem governadas pelas que gostam.

Tirem suas próprias conclusões.

Postado no http://cogitoergosum.zip.net em 10/06/2005.

Um comentário:

Cris Pironi disse...

[Igor]
Discutir o conceito democracia é algo bastante complicado, ainda mais, para um país que vive imerso em crises políticas como o nosso. Mas, levantar a questão e debatê-la penso que seja essencial. Concordo que não tem comos implantar um democracia direta, como havia na Grécia. E acho também, que estamos longe de uma democracia que idealizamos como "ideal". Penso que uma das formas de avançar democraticamente é com a realização de plebiscitos. Nessa questão, a eleição dos Eua é interessante, já que no dia da eleição, a população vota em uma série de questões importantes para a sociedade, gerando um engajamento político das massas. Atualmente pensar em política no nosso país, o que vêm a cabeça é a impunidade e a corrupção dos nossos governantes, vide a história do mensalão. Não sei o que podemos fazer, mas tenho certeza que devemos sair da inércia e acompanharmos os nossos hermanos bolivianos, peruanos, venezuelanos, argentinos e etc nessa luta contra corrupção dentro do nosso país.

12/06/2005 01:47

[Althy]
Que me targem de capitalista contudo acredito piemente numa democracia direta hoje seria inviavel economicamente em cidades grandes em razao de que muitas vezes o custo do plebiscito ou referendo poderiam consumir recursos muitas vezes superiores as obras. Porém, em vitude da evoluçao do sistema teconologico num futuro proximo estes valores para implantaçao diminuiriam permitindo assim a formaçao de uma democracia direta.

11/06/2005 18:11

[fabiano]
que blog mais culto gente....rsrsrsrs que formalidade....hehehe

11/06/2005 16:53

[Grazy(BH)] [http://www.novaversao.zip.net]
Oi, Cris...Legal ter um blog tão engajado e que nos faz pensar um pouco mais sobre o que está ao nosso redor. Em relação à democracia, creio que a maioria dos brasileiros nem sabe do que se trata e os que sabem, não exercem os seus direitos. Assim, fica difícil dizer que vivemos em um país democrático, né? Bjos

11/06/2005 15:37

[Sassy]
Acho que acabamos caindo no mesmo ponto do outro tópico, como fazer com que as pessoas olhem para seu papel político e buscar seus canais estabelecidos por direito de participação (questão para qual infelizmente ainda não tenho resposta). Isso sem contar as inúmeras pessoas que preferem a fila de justifucação às filas das sessões eleitorais. Vivemos em um país em que a cultura política beira a 0. Triste ver essas mesmas pessoas (e estou falando baseada no meu círculo de convivência) são as primeiras a criticar políticos ou ações públicas sem se dar conta que ao menos em parte são responsáveis pelas mesmas. Há um ditado nas sociedades livres: cada povo tem o governo que merece e digo mais (citando novemente sem me lembrar a fonte) a frase que o patético líder do nosso vizinho do norte tentou dizer ao tentar explicar o inexplicável (tão bem retratada por Michael Moore) "Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me". Como cidadãos somos responsáveis sim, ou ao menos deveríamos.

10/06/2005 16:20